Medicamentos são geralmente usados para tratarmos alguma
anomalia: uma gripe, infecção, ou dor. Uma prótese tem como objetivo restaurar
uma função perdida, como ocorre quando uma pessoa tem por exemplo um membro
amputado. Mas medicamentos e próteses não poderiam também ser usados para
melhorar as funções e habilidades de uma pessoa normal, uma pessoa que não tem
nenhuma doença, nenhuma restrição incomum de suas capacidades físicas?
Nas universidades americanas e europeias é grande o
número de estudantes e pesquisadores que procuram medicamentos como Ritalina,
Adderall, e Modafinil para melhorar suas capacidades cognitivas. É bem provável
que um dia as próteses se tornem tão sofisticadas que as pessoas possam optar
por trocar um braço ou uma perna por uma super-prótese. Nas Olimpíadas de 2012 por exemplo o atleta sul-africano Oscar Pistorius correu sobre próteses lado a lado de atletas "normais". Houve a suspeita na época de que as próteses de Oscar Pistorius deixavam os demais atletas em desvantagem.
Quais são então as
implicações éticas e políticas de uma sociedade em que as pessoas buscam
"aprimorar" suas habilidades físicas e cognitivas por meio de
medicamentos e técnicas resultantes de avanços tecnológicos? É essa a questão
de que me ocupo nesse artigo: Para que pernas se as próteses correm mais?
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ARAUJO, Marcelo de. "Para que pernas se as próteses correm mais? Tratamento e aprimoramento no debate bioético contemporâneo". In: (ed.) Amaro Fleck; Evânia Reich; Jordan Muniz, Crise da democracia?. Florianópolis: Nefipo, 2015, 245-271. ISBN 978-85-99608-13-5