Resumo: Em função de alguns avanços
no âmbito da neurociência, cada vez mais indivíduos têm feito uso
de certas drogas com o objetivo de melhorarem seus desempenhos em diversos
tipos de atividades humanas. Quando essas drogas são utilizadas para que um
indivíduo possa ter o mesmo desempenho que outros indivíduos saudáveis têm,
falamos em "terapia" ou "tratamento". Mas quando indivíduos
saudáveis buscam determinadas drogas com o objetivo, não de tratarem uma anomalia,
mas de elevarem seu desempenho a um nível superior ao nível considerado normal,
falamos então em "aperfeiçoamento" ou "aprimoramento" (enhancement em inglês). Nos esportes, o
uso de drogas para "aprimoramento" é bastante difundido. Mas
cada vez mais pessoas têm recorrido a drogas com o objetivo de buscarem também "aprimoramento
cognitivo" (cognitive enhancement em inglês). O uso de drogas para
fins de "aprimoramento", por oposição à "terapia", suscita evidentemente
uma série de questões morais, e já existe mesmo uma ampla literatura filosófica
que trata da ética do aprimoramento cognitivo.
Mas imaginemos agora, apenas a título de hipótese, que pudéssemos também
melhorar o "desempenho moral" das pessoas por meio de drogas. Haveria
algum bom argumento contra o "aprimoramento moral" (moral enhancement) de seres humanos? O
mundo não seria melhor se pudéssemos modificar as motivações morais dos
indivíduos para que eles se tornassem mais cooperativos, solidários, empáticos,
menos agressivos, menos egoístas, etc.? Tem havido contemporaneamente um amplo debate sobre a moralidade do "aprimoramento moral". Alguns autores chegam mesmo a propor o "aprimoramento moral" de seres humanos com o objetivo de prevenir guerras catastróficas no futuro.
Este artigo procura mostrar que mesmo que admitíssemos que o "aprimoramento
moral" possa se tornar viável e seguro no futuro, o "aprimoramento
moral" não seria capaz de resolver questões de justiça no âmbito das
relações internacionais. O artigo retoma uma distinção entre "realismo de
natureza humana" e "realismo estrutural" com o objetivo de
chamar atenção para os limites políticos do "aprimoramento moral".
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© Como citar este artigo:
ARAUJO, Marcelo de: "Moral enhancement and political realism". In: Journal of Evolution and Technology. 2014, vol. 24, n. 2, p. 29-43.