No Brasil, não faltam crimes nas manchetes de jornal e noticiários
da TV. Então, que importância ainda teria nos lembrarmos de um homicídio que
ocorreu há 100 anos na cidade do Rio de Janeiro? “Avenida Rio Branco, esquina
com Ouvidor” é uma narrativa de ficção sobre a morte do poeta gaúcho Annibal
Theophilo, morto pelo deputado federal Gilberto Amado em 1915. O crime ocorreu
em plena Avenida Rio Branco, na esquina com a Rua do Ouvidor, no centro do Rio.
Todos os diálogos deste conto foram diretamente extraídos de
jornais da época, que publicavam diariamente notícias sobre o crime que abalou
a cidade do Rio de Janeiro, mas que depois foi caindo em esquecimento.
Trecho: "Paulo, contudo, como se quisesse demonstrar na prática o que propusera a Gilberto em teoria, e para que não o acusassem de incoerência depois, empunhou em riste a bengala e partiu para cima do poeta. Aníbal, mais corpulento do que Paulo, surpreendeu o agressor: agarrou-o pela gola fazendo o homem sacudir dentro do fraque. Foi uma gritaria no saguão, um pandemônio de se ouvir na Rio Branco: mais insultos, ofensas, acusações que vinham de todos os flancos descobertos. Os Champs-Élysées nos trópicos mais lembravam agora as trincheiras de uma guerra em pleno curso na Europa. Mas não durou muito tempo o combate. Foram três disparos de um revólver para encerrar o conflito. Duas balas na parede. A terceira, desferida pelas costas, atingiu Aníbal na nuca. O poeta morreu na ambulância a caminho do hospital."
As razões para o esquecimento do crime dizem muito sobre a nossa
incapacidade para preservar adequadamente nossa memória e escrevermos nossa história. Num
texto publicado na Revista de História da Biblioteca Nacional eu abordo essa
questão.
[ PDF ]
[ imagem ] Revista Fon Fon, 26 de julho de 1915, p. 22.
© Como citar este conto:
ARAUJO, Marcelo de. 2015. "Avenida Rio Branco, esquina com Ouvidor". dEsEnrEdoS. Teresina, ano VII, n. 24, p. 1-8. ISSN 2175-3903