Este é o resumo de uma comunicação feita no “III Congresso Internacional Vertentes do Insólito Ficcional”, realizado entre os dias 15 e 19 de novembro de 2016 no Instituto de Letras da UERJ.
Na imprensa americana aparecem todos os dias milhares de artigos escritos por programas de computador. Mas os leitores mal se dão conta de que por trás das matérias não há uma pessoa de fato, mas um “jornalista robô”. No debate político vem ocorrendo um fenômeno semelhante: o fórum para discussão hoje em dia são as redes sociais, mas uma boa parte das opiniões expressas sob a forma de tweets não são escritas por pessoas, mas por inteligência artificial. Como um órgão da imprensa noticiou o problema: “Robôs dominam debate político nas redes sociais”. Em março de 2016 os organizadores do Prêmio Nikkei Hoshi Shinichi de Literatura, no Japão, anunciaram que, dos 1450 romances inscritos, 11 foram escritos em “co-autoria” com algoritmos. Um deles chegou às finais. Já existem até concursos literários voltados para narrativas de ficção geradas por inteligência artificial.
Uma questão de que a teoria literária terá de se ocupar daqui para frente diz respeito à natureza desse tipo de produção textual. Quem são seus autores? Que personagens são esses nos debates políticos? Qual é o lugar do escritor em sociedades em que narrativas de ficção são geradas por algoritmos?
O objetivo desta comunicação é examinar essas questões. Pretendo me concentrar na discussão sobre “chatbots”: programas de computador com os quais interagimos através de mensagens de texto. O primeiro chatbot foi criado por J. Weizenbaum em 1966 e se chamava Eliza. O nome é uma homenagem à personagem Eliza Doolittle, da peça Pygmalion (1913), de G. B. Shaw. Mas agora, 50 anos depois, a relação entre chatbots e a literatura se tornou mais estreita. Um chatbot é antes de qualquer coisa uma obra de ficção escrita em linguagem de programação. A criação de chatbots sofisticados vem exigindo cada vez mais o trabalho conjunto de programadores e escritores profissionais. Minha intenção é discutir uma concepção de intertextualidade que nos permita compreender a relação entre narrativas de ficção e linguagem de programação.
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© Como citar este abstract:
ARAUJO, Marcelo de. 2016. “A criação de chatbots é o futuro do trabalho do escritor? Gerando narrativas de ficção em sociedades algorítmicas”. In: A personagem nos mundos possíveis do insólito ficcional. Caderno de resumos e programação. III Congresso Internacional Vertentes do Insólito Ficcional. Rio de Janeiro: UERJ / Instituto de Letras, p. 208.
(ISBN 978-85-8199-055-2).