Neste artigo, examino algumas passagens de A Guerra do Peloponeso nas quais Tucídides discute as causas da guerra e os limites da ideia de justiça. Eu me concentro mais especificamente na contribuição de Tucídides para o "realismo" em relações internacionais.
Este artigo foi originalmente concebido como uma palestra para estudantes do primeiro semestre do curso de Filosofia Política no Departamento de Filosofia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em março de 2020. Mas por conta da pandemia a palestra não chegou a ser realizada. Ainda assim, a pandemia me serve como pando de fundo para a conclusão do artigo e para sublinhar a relevância do pensamento político de Tucídides nos dias atuais.
No século XXI, a filosofia política não podem negligenciar o exame de questões normativas relativas à relações internacionais. Esta é a primeira vez, na história da humanidade, que os seres humanos podem ter que enfrentar a sua a própria aniquilação enquanto espécie. Questões relativas a guerras nucleares, mudanças climáticas e pandemias – para mencionar apenas alguns "riscos globais" bem conhecidos – exigem soluções globais e forte cooperação internacional. Tucídides pode muito bem ter sido o primeiro autor a chamar a atenção para a força duradoura do realismo em relações internacionais. Mas ele pode muito bem ter sido também o primeiro autor a testemunhar as deficiências do realismo no exame de questões de política internacional.
[ site da revista ]
© Como citar este artigo:
ARAUJO, Marcelo de. 2020. “They declared war and made their decision to prefer might to right”: Thucydides on the use of force among states. Revista Estudos Políticos, vol. 11, no. 21, pp. 71-81, doi: 10.22409/rep.v11i21.46519