Contribuição para a reportagem de Nelson Oliveira, da Agência de Notícias do Senado Federal. Em 28 de agosto de 2020, Oliveira publicou uma longa reportagem intitulada "Desigualdade e abusos na pandemia impulsionam cobranças por Direitos Humanos". A reportagem é seguida de uma entrevista na qual comento algumas questões sobre a violação de direitos humanos durante a pandemia.
Trechos:
"A única maneira de se prevenir novas pandemia é com mais cooperação internacional e transparência de cada país para o relatar novos eventos envolvendo “virus spillover”. Não há nenhuma razão para acharmos que a próxima pandemia não surgirá no Brasil, especialmente em função do desflorestamento e da fragmentação de florestas."
"Durante uma catástrofe, a prioridade deve ser salvar o maior número de vidas. Isso ocorre porque catástrofes geralmente limitam de modo drástico certos recursos, que se tornam escassos. Em períodos de normalidade, existem alguns critérios que podem ser observados para que os recursos sejam distribuídos de modo igualitário. Durante esses períodos, a proposta utilitarista pode não ser a mais adequada. Mas durante uma crise, quando alguns recursos se tornam drasticamente escassos, há um reconhecimento geral (que não é compartilhado por todos os filósofos ou filósofas) segundo o qual o mais importante é salvar o maior número possível de vidas, mesmo que isso possa ser visto como violação dos direitos fundamentais de algumas pessoas, se aplicados os critérios que valem em tempos normais."
"Pense, por exemplo, num navio que sofreu uma pane nos motores. Os passageiros têm de ser transferidos para outra embarcação. Ninguém pode ser deixado para trás. Agora pense num navio que está afundando rapidamente, como o Titanic ao se chocar contra um iceberg. Idealmente, todos deveriam ser salvos, mas na impossibilidade de salvar todas as pessoas, a ideia é que a coisa certa a se fazer é salvar o maior número de vidas, mesmo sabendo que algumas pessoas serão deixadas para trás. É claro que ninguém quer estar na posição de ter de tomar essas decisões — quem viverá e quem morrerá. Mas deixar que pessoas morram em função da incapacidade de tomar decisões nessas horas não é, a meu ver, nenhuma virtude moral."
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© Como citar esta entrevista:
ARAUJO, Marcelo de. 2020. “Não foi por acaso que, numa simulação realizada entre especialistas e tomadores de decisão nos Estados Unidos, em 2019, a pandemia teve início no Brasil”. Research Gate, 15 de novembro de 2020, doi: 10.13140/RG.2.2.27350.06724.
Entrevista originalmente publicada como "Desigualdade e abusos na pandemia impulsionam cobranças por Direitos Humanos". In: Senado. Agência de Notícia, 28 de agosto de 2020.